terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Ópio

Homem, animal de vícios. Vítima do cativeiro na sua própria satisfação. Comodista e acomodado. Masturbar o espírito até já não saber viver senão em êxtase. No dia seguinte, a ressaca. A sensação de perda, de falta. O que houve e já não há. Da euforia ao desespero, a mente delira e alucina; o corpo rói-se por dentro, as entranhas revolvem-se, revoltam-se contra a clausura. É preciso outra droga, metadona para a alma. Que neste estado de coisas, uma overdose era um mal menor.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

100 palavras

Parecem nunca chegar, mas muitas vezes são o suficiente. As boas acções valem bem mais do que as palavras bonitas, mas basta uma palavra mal medida para contaminar uma boa acção. As palavras só têm valor como arma de arremesso. Só têm força quando ferem. De resto, nem se dá por elas. São demasiado leves para construir seja o que for, mas suficientemente letais para destruir qualquer coisa. Para sarar uma ferida, todas as palavras do mundo não chegariam, mas basta uma para abrir um golpe que nunca mais irá fechar. É abismal e tão injusta a parcialidade das palavras.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Castelo de cartas

Primeiro coloco duas, apoiadas uma na outra. Ao lado outras duas, da mesma maneira. Mais três pares e o primeiro nível fica completo. Por cima construo outro, semelhante mas um pouco mais pequeno, que vai ficar por baixo de um terceiro. E o castelo vai crescendo. Vai ficando mais forte e mais sólido. À prova de fogo, à prova de água. A minha criação enche-me de orgulho. Pela janela aberta sopra uma brisa mais forte. O meu castelo de sonhos, resistente à dor e à mágoa, jaz agora numa pilha de ilusões desfeitas. Podia começar tudo de novo, mas não quero. Dá muito trabalho para o que custa vê-lo cair.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Everybody lies... *

E para contornar esse pequeno grande obstáculo, o Homem inventou o papel.

* Gregory House, MD

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Filho pródigo

Quantas vezes não quis largar tudo e ir para longe? Quantas vezes não quis saber de nada nem ninguém? Quantas vezes não desejei desaparecer da vista de todos e até da minha também? Quantas vezes não parti, mesmo sem destino traçado, apenas para não ficar? E quantas vezes não dei por mim, a meio do caminho, inconscientemente, a voltar para trás?