domingo, 21 de setembro de 2008

Revisitado

"Não: não quero nada", disse ele. Perante tanta insistência, repetiu: "já disse que não quero nada". E prosseguiu, desenrolando um extenso protesto contra conclusões, estéticas, moral e metafísica. Censurando quem lhe queria pegar no braço e fazer dele companhia para tudo. Chamando à liça o direito a ser doido e a estar sozinho e em paz. Bendito seja! Assim já fico a saber. Quando me vierem perguntar, já sei o que vou responder. Direi simplesmente: "quero o mesmo que aquele senhor".

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Introretrospecção

Vejo, ouço, sinto e viajo. Uma imagem, um aroma, um som. E sem sair do sítio estou de novo lá. Aquela hora que já passou, aquela atmosfera que já respirei, aquela sensação que me invadiu sem pedir licença, já não sei quando, onde ou porquê. Uma qualquer dessas antigas caixas de música, túmulos soterrados pelo pó do tempo que não pára. O sorriso aberto e incontido de quem vive o momento. A certeza triste mas segura de que "antes é que era bom", e não volta mais.

sábado, 12 de abril de 2008

Sobre rodas

Em tempos que o próprio tempo já esqueceu, lembro-me de olhar para a roda gigante da Feira Popular e indagar a mim próprio, com um certo assombro até, o que aconteceria se um dia ela ficasse parada tendo alguém lá em cima. Nunca me ocorreu na altura que um dia ficaria a olhar estarrecido para a roda da fortuna parada comigo lá em baixo.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Memo

Perguntar ao iluminado que inventou a condição humana porque raio a fez só querer o que não pode ter.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Cartão amarelo

Falta de ideias.
Falta de tempo.
Falta de paciência.
Falta de sorte.
Falta de tudo.
Falta de nada.
Tamanha sucessão de faltas já merecia cartão.